2011-12-23

O Natal de Dina Silva

Que nenhuma crise vos arranque do coração a capacidade e o desejo de "amar, amar perdidamente..." nem vos impeça de continuar a ter nas vossas mentes "todos os sonhos do mundo...". 

E que nenhuma pedra no caminho, grande ou pequena, vos faça tropeçar ou cair.

Que a Poesia "preencha as vossas falhas".

NATAL

Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas
postas até ao fundo do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo. 

                                                           Álvaro Feijó
POETRIA

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