2010-06-28

32.

súbita uma veia distende-se
e rebenta no último timpano
como se no azul do labirinto
houvesse luz e primavera.

2010-06-27

31.

que paz doméstica nesta sala
onde pequenos passos são asas
e voos dentro do poço
em que breve vejo abismo
e impossibilidade de vida até.

2010-06-22

poema em dia de exame

um esticão de corda um golpe nas veias
o mar irrompendo dentro do corpo caído
como mola encostada à roupa incrustação
nasal ou perfurado tímpano rasante        -
esta é a lição plural da sílaba da ponte
de palavras lavrante nos corais e nas conchas
refulgentes de luz e calor fundentes longe.

uma brasa arde no seio na esquina pélvica
um braço trabalha com os dedos a azáfama
do mar anuncia-se no vento na súbita vertente
das unhas duas lâminas crescem ardentes
esperando certamente a alegria do outono
os ritos agrícolas acontecendo nas vísceras
cristais líquidos explodindo rigorosos lexemas
abrindo-se ao poema como a terra às águas.

2010-06-21

30.

na espera cumpro o silêncio
o acto longo suspenso mesmo
que me transporta do corpo
ao lugar outro que não existe.

2010-06-19

29.

da consciência cinzenta
brota um girassol
verde-ametista quente
como se um espectro
íntimo tivesse assim...

2010-06-14

28.

que importa o caminho
via longa sem passado
se dentro de ti escondes
o próximo passo a ser dado.

2010-06-11

7.

mordente uma cobra
um rosto rompe
preso aos líquenes
verde efígie dependurada
no baloiço dos braços mortos.

2010-06-01

"Góia" de Voznessenski



“Sou Góia!
Arrancou-me o inimigo as furadas órbitas em voo para o campo nu.
Sou horror.
Sou grito.
 Da guerra, do carvão das cidades na neve do ano quarenta e um.
Sou fome.
Sou garganta
De mulher enforcada cujo corpo, como um sino, tangia na praça nua...
 Sou Góia! Ó cachos
Da represália! Em descarga voo para o ocidente, eu cinza de inesperado visitante!/
E na memória do céu sólidas estrelas cravo.
Como cravos.
Sou Góia.”
[tradução de José Sampaio Marinho]