2017-06-27

Pensamento assistido por José Saramago


«Tudo é biografia, digo eu. Tudo é autobiografia, digo com mais razão ainda, eu que a procuro (a autobiografia? a razão?). Em tudo ela se introduz (qual?), como uma delgadíssima lâmina metida na fenda da porta e que faz saltar o trinco, devassando a casa.» 
(José Saramago, Manual de pintura e caligrafia, Lisboa, editorial Caminho, 2ª, 1983, p. 207.)

2017-06-22

Um dos mais belos "explicit" da literatura em Vergílio Ferreira


Um dos mais belos "explicit" da literatura em Vergílio Ferreira

Não espantando o caráter superior da escrita vergiliana para quaisquer leitores comuns, importa, nessa supletividade, destacar, ainda assim, os momentos altíssimos que o romancista nos legou. Em Até ao fim (1987), encontramos um dos mais belos explicit literários:

«Tenho uma bebida na pequena mesa ao lado da cadeira de lona, quase a esqueci. Beber devagar com a noite que desce. Uma serenidade invulnerável alastra pelo universo. os rapazes da piscina cá do alto recolhem a casa. A piscina deserta. O mar deserto até ao limite do poente. A vida inteira dentro de mim.»

2017-06-13

«Livros do Brasil» homenageiam Aquilino


«Livros do Brasil» homenageiam Aquilino

Das importantes e saudosas colecções trazidas a lume pela editora «Livros do Brasil", algumas agora redivivas mas sempre com diferente e inferior sabor, destaco aquela que aparece na fotografia: «O Jardim das Tormentas». Trata-se, como o confirma a badana, de uma clara homenagem a Aquilino Ribeiro, de uma homenagem à "sensualíssima prosa do mestre Aquilino Ribeiro". Abre a colecção o erótico «Isabel e as águas do diabo" de Mircea Eliade.

2017-06-09

Vasco Graça Moura e Aquilino Ribeiro – o acorde literário


Vasco Graça Moura e Aquilino Ribeiro – o acorde literário

Na sempre estimulante e certamente esquecida crónica que Vasco Graça Moura subscrevia na revista Sábado da década de 80 – e refiro-me a “Semana inglesa” -, não esquecia o escritor e cronista o fulgor canónico de Aquilino Ribeiro ao aludir ao matizado descaso de Mau tempo no canal, de Vitorino Nemésio, que, em 44 anos, conhecera apenas sete edições correntes (estávamos em 1988) e que era, no entendimento graçamouriano, um caso de um romance dotado de todas as qualidades do género.
Tal texto, intitulado “Mau tempo”, integra escassas menções de obras-primas do mais de meio século português até então vivido pela literatura portuguesa. Moura fala apenas de Nemésio, Torga e Aquilino. E de Aquilino apresenta dois títulos que são casos de “um acorde perfeito e iluminante entre a escrita, a matéria e a realidade”: O Malhadinhas e A Casa Grande de Romarigães.
Viseu, 8 de junho de 2017

Martim de Gouveia e Sousa