[FARPINHAS - DEZASSETE]
Os abusadores
andam por aí como a degeneração da pronúncia tradicional. João de Araújo
Correia, em crónica impagável, apoda-os de calcinhas. E bem. Como símbolo
aplicável à vida, são calcinhas os onzeneiros, os falsários, os moedeiros
batoteiros, muitos dos ditos especialistas, não poucos políticos, associações e
associados, gente de muitas cores e outros que ficaram esquecidos. Para se ser
calcinhas é muito fácil – basta não se passar na prova da verdade.
Por exemplo,
quando um político diz uma coisa hoje e outra amanhã entra logo nesta classe
nacional. Haverá muitos, haverá poucos? Parece que são muitos. Não me
distraindo com o primeiro-ministro atual, que é já campeão de tergiversação,
lembrando ainda que esta disputa em certo partido da oposição há de ser coisa
de calcinhas (não tem Seguro sido muito inseguro na verdade e não era a verdade
de Costa, recém empossado ministro, em entrevista madrugadora, ser a favor de
privatizações na saúde e na educação?), basta dizer que só há que ser
verdadeiro.
A verdade
existe. Clinton foi calcinhas e Mandela nunca o foi. Os calcinhas são razoavelmente
incultos. Nunca leram Shakespeare, por exemplo. Mas dizem que sim. Anda por aí
muita gente assim, fingida, interesseira, calcinhas de todo. Lapuzes,
movimentam-se embrulhados em unguentos e golpes baixos. Procuram até fingir um
saber, uma especialização. Perdem algum tempo a fixar frases célebres. Às vezes,
dizem até gostar de poetas. Fixam o rasto dos ilustres e devassam-lhes a vida.
O calcinhas conhece as pessoas há menos de um mês e é já seu amigo figadal. O
interesse assim comanda.
Não se ser
calcinhas é ouvir o sangue e dizer a verdade. Acredito até que muitos mais não
sejam calcinhas e estejam fartos deles. Cuidado, eles andam por aí.
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