2014-07-27

O estudante da Universidade de Coimbra Fernando de Gouveia e Sousa na república «Palácio da Loucura», segundo Carminé Nobre








Já ouvira a história a Abílio Alves Perfeito. Mas impressa mesmo, encontrei-a aqui (Carminé Nobre, Coimbra de capa e batina, vol. II, Coimbra, Atlântida - Livraria Editora, L.da, 1945, pp. 331-336), não há muito tempo. É uma delícia ouvir à distância os ecos do trajeto de meu Pai! 

2014-07-15

Pensamento assistido por José Tolentino Mendonça


Em crónica belíssima e certeira, de título «Cantar», José Tolentino Mendonça deixa-nos, quase a finalizar o texto, a seguinte possibilidade:

«Talvez este silêncio instalado corresponda a um qualquer silenciamento mais fundo em nós.»

E isso assusta. Afinal, o que é que nos aconteceu?

2014-07-08

[FARPINHAS - DEZASSETE]

[FARPINHAS - DEZASSETE]

Os abusadores andam por aí como a degeneração da pronúncia tradicional. João de Araújo Correia, em crónica impagável, apoda-os de calcinhas. E bem. Como símbolo aplicável à vida, são calcinhas os onzeneiros, os falsários, os moedeiros batoteiros, muitos dos ditos especialistas, não poucos políticos, associações e associados, gente de muitas cores e outros que ficaram esquecidos. Para se ser calcinhas é muito fácil – basta não se passar na prova da verdade.
Por exemplo, quando um político diz uma coisa hoje e outra amanhã entra logo nesta classe nacional. Haverá muitos, haverá poucos? Parece que são muitos. Não me distraindo com o primeiro-ministro atual, que é já campeão de tergiversação, lembrando ainda que esta disputa em certo partido da oposição há de ser coisa de calcinhas (não tem Seguro sido muito inseguro na verdade e não era a verdade de Costa, recém empossado ministro, em entrevista madrugadora, ser a favor de privatizações na saúde e na educação?), basta dizer que só há que ser verdadeiro.
A verdade existe. Clinton foi calcinhas e Mandela nunca o foi. Os calcinhas são razoavelmente incultos. Nunca leram Shakespeare, por exemplo. Mas dizem que sim. Anda por aí muita gente assim, fingida, interesseira, calcinhas de todo. Lapuzes, movimentam-se embrulhados em unguentos e golpes baixos. Procuram até fingir um saber, uma especialização. Perdem algum tempo a fixar frases célebres. Às vezes, dizem até gostar de poetas. Fixam o rasto dos ilustres e devassam-lhes a vida. O calcinhas conhece as pessoas há menos de um mês e é já seu amigo figadal. O interesse assim comanda.

Não se ser calcinhas é ouvir o sangue e dizer a verdade. Acredito até que muitos mais não sejam calcinhas e estejam fartos deles. Cuidado, eles andam por aí.

2014-07-05

[agudeza]

[agudeza]

sem «sequer poemas ou projecto deles»*
é este campo de brancura que ora fendo
caminhando ora como quem regressa.

que hora de faca vem e me incorpora
lavrante o ar em covas de morte agora
as vísceras rasga e as lança em abismos.

que ora foge por espessos bosques
de longe travando o alicate dos ossos
e logo em fanal escorrendo nos dedos.

sem sequer na mão as sílabas agudas.

________________
*Herberto Helder