2013-05-30

[composição]

intestemunhal a água sobre o rumor vem
como pudor íntimo afagando a composição
esta a pele discreta face límpida se estende
abrindo os veios da pele dentro da solidão.

quanta força é fracasso nesta voz descida?
que regresso solitário à estranha condição?
incompreensível a água brota da cegueira
como pequena vida irrompendo do mito.


diversa a voz assim água é e fonte e vida. 

2013-05-27

HISTÓRIA DA SERVIDÃO: A LITERATURA É AQUILINO



HISTÓRIA DA SERVIDÃO: A LITERATURA É AQUILINO

“Iminente para sempre”[1], como no verso de Herberto Helder, assim Aquilino Ribeiro irrompe nos dedos dos leitores em quentes ritos de espanto. E não é a couraça do ritualismo que o escuda, nem tão pouco a coorte processional dos encartados aquilinianos, ciosos de uma especialização a que literatura viva foge. Cedam, pois, os finos lábios da privatização à liberdade da vida, à fogueira imensa que é a obra de Aquilino, com a sua luz exorbitante, com a probante alegria que não se abandona ao cansaço ou à inércia da acédia, enfim, com a procidente deflagração amorosa que inunda páginas e páginas de dádiva  e explosão rubiflora. Assim a iminente literatura que vem aos dedos, incomensurável de vigor, inconcussa de destreza oficinal.
Neste dia de Aquilino, de celebração literária e linguística, recordo ainda os importantes contributos de David Mourão-Ferreira, Óscar Lopes e Eduardo Lourenço para o desbravamento de algumas das principais linhas hermenêuticas na obra do grande escritor e que, no parágrafo anterior, foram devidamente salientadas nos tópicos da exorbitância e da efusão, bem como na execração de quaisquer tibiezas.
A história que se conta é uma história de servidão. À língua, à literatura, ao país, com uma determinação admirável, com uma consistência inusual, rumo a um monumento valiosíssimo e plurímodo, que não é “apenas literatura”. Seccionando os saberes, o desempenho de Aquilino escreve-se também na vida, na biografia, na “performance”. Vivendo revoluções, prisões, fugas, clandestinidades, exílios, refúgios, em tudo isso estava um manancial que viria a ser suporte de escrita – o que de pícaro não haverá neste acúmulo de vivências e que transbordamentos disso não serão literatura e memorialismo?!...
Obrigando o leitor a contemplar a natureza, há neste vezo um regresso a casa que é um lídimo amor às coisas pátrias e hino a uma autenticidade desinfluenciada, original e produtiva. Quaisquer padres Ambrósios e todas as Celidónias valem uma filosofia, uma psicologia e uma grácil sensualidade. A servidão de Aquilino à mesa de trabalho era uma faca cerce sobre o fingimento e ousava descer a arte sobre “a bronca, flagrante e sincera Serra” e tal não era pouco, não poderia ser pouco. Mas não só, e basta uma leitura de Jardim das tormentas para que se desvele a panóplia temática aquiliniana.
Não absolutamente estimado pela presença, que ocasionalmente lhe assinalava os defeitos (Régio, Gaspar Simões), é deveras interessante que o único romance surrealista (Apenas uma narrativa de António Pedro) contenha uma dedicatória a Aquilino, assim se provando o leque irradiante da sua literatura. Nesta sutura de linhas e contralinhas, cose sem lassidão o fio camilianista, que Aquilino perseguiu (lembre-se a grande “biografia”, os ensaios…) e congraçou nessa obra maior que é A Casa Grande de Romarigães.
Durante décadas até à sua morte, Aquilino Ribeiro ocupou lugar cimeiro no tabuleiro da digladiação canónica. Incalculável, é um filão contra o silêncio.
                                                                                       Viseu, 27 de maio de 2013

                                                                                   Martim de Gouveia e Sousa



[1] Herberto Helder, Servidões, Porto, Assírio & Alvim, 2013, p. 20.

2013-05-22

DO DESCOMENTÁRIO & DA OPORTUNIDADE


Os descomentários andam no vento. Não é estrela quem quer. Este pai comenta os dizeres da filha e esta comenta os assertos do pai. Este nada dizer-se, este cavaquista empurrar para a frente só afirma que há políticos que não merecem ter presente.

2013-05-18

Durão durão mole sob rija Alemanha

A Alemanha sabe o que faz, Durão Barroso nem sempre. Cioso e servil, ultrapassa o amo e estatela-se no tapete. Durão sabe o que faz, servil sabe o que fez. Principescamente pago, o antigo defensor da classe operária afoga-se em obras de arte, voluptuoso, como vulgar transfuga...

2013-05-17

Vítor Gaspar e o que quer

"Terrorismo económico de Vítor Gaspar", eis a divisa necrófaga de um governo que sabe o que come e a quem come. Quem vem daí fazer um exército a partir das Caldas?

2013-05-16

A infelicidade de termos Cavaco


Mau recitador e pior citador, o presidente Cavaco aparece ligado, até pela onomástica, a trágicos momentos - afinal, não lhe bastava ser Silva! Nada sabendo de Camões e talvez menos de More, o estranho timoneiro, aquele que não tem dúvidas, avança pressuroso e ajoelha a Maria... Cavaco, que não é Nossa Senhora de Fátima, nem o poderia ser
E nesta trapalhada segue o país, afundando-se em trapalhadas que Cavaco conhece e diligentemente esconde. Quando, afinal, um Presidente?

2013-05-07

coroa sem terra


é de revolta que falo
de uma grande hélice
planando nos corpos
como espasmo de luz.

que falta para dizer não
se entre os anjos caídos
os murmúrios são vãos
como memória queimada.

este é o último ato, ouve, o último
e do silêncio que fizeres
obscura ficará a pátria
como coroa adormecida.

esta a mão. toma-a sentindo.

2013-05-02

O FIO DA ESPADA, POR FAVOR!



O FIO DA ESPADA, POR FAVOR!

Mitridatismo, toxicidade, complexo de Pinóquio, habituação, swapismo, iliteracia, incompetência, eis palavras que derivam da (in)ação de um governo pletórico de apodos e, indubitavelmente, surdo. Mas não tão surdo assim, porque em fuga, em gímnica mimese do timoneiro sustentador Cavaco Silva, encaixado em dois partidos e nada isento. O que não espanta, se pensarmos no vergonhoso ganhar que revelou ao destilar tamanho ódio em discurso no Centro Cultural de Belém (http://presidenciais2011.sapo.pt/info/artigo/1123617.html).
O veneno vem daí. Daí  “A lagartixa e o jacaré” de Pacheco Pereira. Face a tão grande envenenamento, o fio da espada, por favor! O que é mau e já não envenena não interessa a ninguém. Mitridates exige reparação. Quem vem acabar com esta reles história quotidiana?