2012-03-28

um polvo na cidade

Chove dentro do fígado
e neste espaço declinado
húmidos três corações
bombeiam azul o sangue
como se na passagem
houvesse espelho de aço
e tentáculos octodestros:
um polvo cobre a cidade
tateia a rudeza das pedras
aveludadas pelas chuvas
e bípede corre nos túneis
abraçando limos líquenes
vencidos claros amores
nas esquinas devorando
atritos ogivas flébeis
fogos desertos secos.
um polvo cobre a cidade
com memória de fonemas
poisa nos corpos lembra
os desejos súbitos peitos
arfantes com água na boca
algebricamente pendendo
pelos labirintos conhecendo
os sinais os claros sinais
neuronais em rede lobular
como entre a noite e o sono
o cáustico veneno na pele
incendiando antigo útero.
um polvo cobre a cidade
o rio de águas pluviais
inunda todas as fronteiras
e o mimético molusco arde
dentro de funda chaga
como a tríade comportamental
que o faz próximo agrário
do ritual do pão da mesa
do fruto sobre a pele sombra
de si cromatofórico ardil breve
pleno de antiquíssima memória.
o polvo cobre a cidade que chora
e das águas esta garganta gris. 

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