2009-04-30
2009-04-29
2009-04-28
2009-04-26
2009-04-25
frase da noite
Experiência é o nome que todos damos aos nossos erros
Oscar Wilde
2009-04-24
Frase do dia
Não há santo sem passado,
não há pecador sem futuro...
referido pelo Cardeal Nguyen van Thuan
no seu livro Testemunhas da Esperança
[frase enviada por Pedro Aguiar Pinto]
2009-04-23
2009-04-22
"Livros de Matrículas dos Moradores da Casa Real" (2 vols.) por Luís Amaral
www.guardamor.com.pt
www.geneall.net
2009-04-20
"Notícia é só aquilo que alguém quer esconder" por Mário Crespo
Com mais ou menos emotividade e calor, os assistentes do primeiro-ministro contactados mostraram também o seu desagrado pelas intenções da Comunicação Social de considerar o DVD da TVI peça importante na cobertura noticiosa do caso Freeport. É de facto muito importante. O DVD do Freeport é o equivalente às gravações do Watergate que fizeram cair Nixon. Foi na consciência disso que, para desgosto dos conselheiros de São Bento, vários órgãos de Informação optaram por reproduzir excertos do scoop da TVI. Outros não. Todos estão no pleno direito de exercer o seu juízo editoral.
Assim, nos dias seguintes, quem passasse os olhos pelos jornais, ouvisse rádio ou seguisse a TV, inevitavelmente seria informado da notícia que a TVI tinha originado. A liberdade de expressão funciona assim, validando-se nesta diversidade de opções que serve o interesse público. O fundamental é que o continue a fazer em total liberdade porque, com os casos do Freeport e do BPN em roda livre e manifestamente longe de uma conclusão, há incógnitas e suspeitas transversais a todo o Estado, e a democracia tem-se vindo a esboroar. Isto não é uma só questão filosófica. É contabilística também. Os economistas sabem projectar os custos da corrupção no quotidiano das dificuldades dos portugueses. Neste mundo do dinheiro público aplica-se muito bem a lei da química de Lavoisier - nada se cria nem se perde, tudo se transforma. O problema está nessa transformação. Se no Freeport ou no BPN alguém fica com dinheiro subtraído aos lucros dos promotores, ele não entra nos impostos e não se transforma em bem-estar social. Os roubos já conhecidos no BPN (mais de dois mil milhões) e os quatro milhões que a Freeport detectou que tinham desaparecido das contas do seu investimento em Portugal deviam ter passado pelo circuito fiscal e ter sido transformados em bem-estar geral nacional. Foi dinheiro do Estado que foi roubado e, se não fosse a Comunicação Social com os seus exageros e exactidões, a sua pluralidade e o seu sectarismo, a sua independência e o seu clubismo fanático, por vezes tudo manifestado na mesma publicação, nada se saberia e o país empobreceria ainda mais depressa. Claro que é preocupante ter a democracia de um Estado dependente de um só sistema, aparentemente tão frágil e anárquico. Mas neste momento é o que nos resta. Entre segredos de justiça e segredos cúmplices, o Estado tem-se vindo a desrespeitar. O DVD do Freeport foi escondido durante anos, ocultando a verdade ou parte dela. Cinco processos judiciais contra jornalistas depois, é conhecido. Nada pode ficar como dantes. Como Bob Woodward disse, "notícia só é aquilo que alguém quer esconder. Tudo o mais é publicidade".
Há demasiada publicidade em Portugal.
JN, 20 de Abril de 2009
[texto enviado por JCosta]
2009-04-19
2009-04-16
"Épica Menor" de António José Ventura na Gente Singular editora & respectivo posfácio
Posfácio à obra poética
As palavras principais em Épica Menor de António José Ventura
“1. É muito difícil ter cabeça para escrever; tão difícil como ter cabeça para ler!
E, contudo, como é fácil escrever… basta apenas sabê-lo.”
(Mário Saa, A Explicação do Homem atravez duma auto-explicação e em 207
táboas filosóficas, Lisboa, 1928)
Levando em conta o excerto epigráfico, iluminante para o caso, começo por dizer que a poesia de António José Ventura é um caso de boa literatura e de competente escrevivência. E estaria tudo dito, porque o que importa é o macrotexto poético que sugere a apreciação. Umas poucas palavras, no entanto, como diria um esquecidíssimo Tomaz de Figueiredo.
Em reversa euforia genológica, o livro de António José Ventura é e será sempre um objecto literário alarmado, instaurador de perplexidade e de interioridade dilemática. De facto, o valor catafórico do título (Épica Menor, lembro), sem escavação textual ulterior, afirma-se sem despiste: a narrativa poética inscrita é a de uma particular voz que “grita” da casa da poesia uma aventura única decantada em estados íntimos, em momentos quotidianos, breves e profundos – como mitigar a univocalidade dos melhores poetas ou bachtiniano “mundo ptolomaico”, se o ofício poético é ele mesmo um ardimento na margem futurante?!...
Alicerçada em esteios autorais (Tom Stoppard, Paul Celan e Camilo Pessanha) e em portas dilucidativas alógrafas de função ideológica, esta Épica Menor, que inclui ainda num dos passos uma dedicatória a Octave Mirbeau, encontra a sua unidade na quádrupla partição (“A casa, o mundo e as estações”, “Os lugares de chegada”, “No Palácio de Estói” e “O jardim”) submetida ao inderrogável poder unitivo da palavra.
E da palavra parte este acto hermenêutico para relembrar o brilhante paratexto stoppardiano que reposiciona o acto criativo em admonitório “locus solitarius” que permite a fruição de rilkeanos objectos principais que serão tema e mitema. De facto, é de casa, de mundo e de estações que se alimenta esta primeira parte, toda ela explosiva dos geodésicos titulares encravados na propulsão genésica da palavra: como no texto bíblico, a criação dimana das palavras “construtoras” (“As palavras são para ser usadas / na construção da cidade”) e da ambiência aquática, profunda e purificadora: “o mar ao longe espreitando o horizonte / de barcos e velas de navios.”
O poeta constrói e desconstrói (a cidade abre-se à ria e à memória esventrada), construindo sempre um espaço único, desoladamente poético, intimamente devastado pelos fungos da peste do contágio hodierno: e vêm ao texto motivos fragmentários e capciosos, de sabor pós-moderno, como o da cidade desaparecida (lembrem-se poemas como “A cidade estagnada”, “Intempérie”, “O mês de Fevereiro foi aziago” ou “Sono”, onde o espaço cosmopolita estagna, se afunda, se decompõe, se fragiliza...
Sem tempo, o poeta escava as raízes, sendo a casa e o mundo, fluindo no trem estacional da desmemória por veredas internas e externas encaixadas num tempo suspenso: “As coisas são o que são / e permanecem imóveis / neste Estio com restos de barcos / escorrendo pelas esquinas” (“Deriva”). E assim o poeta devassa a interioridade (“A luz que entra pelas janelas / revela os segredos dos deuses”, em “Sul (dois)”), connosco percorrendo os lugares da casa e os lugares do corpo, contra a clepsidra do tempo.
Fluido mas denso, o fluxo poético venturiano alimenta-se de vozes e vectores de influência (e lembrar “Variação sobre um poema de Yeats” soa a tautologia), não desusando a marca cultural, como acontece no incipit textual que, ao referir que “O paraíso é um café de Portimão”, convoca no passo o eco de Walter Benjamin que afirma serem as cervejarias a “chave de qualquer cidade” (Rua de Sentido Único). Segue o explicit do mesmo poema pela toada quotidiana, garçoniana, ao jeito do soneto “O louro chá no bule fumegando”, lembrando que a melhor poesia é vida e pequenos prazeres.
Assomam ainda nesta primeira parte pequenas explosões poemáticas que são interessantíssimas artes poéticas. Lembro, em benefício de inventário, os textos “A inspiração não é um mito romântico” ou o ducassiano “Sou um arqueiro dum exército em fuga”.
De repente, o Poeta chega ao lugar, à segunda morada que é o corpo. Carnal, o novo andamento desta Épica pode inscrever-se emblematicamente no valeryano tempo “d’ un sein nu / Entre deux chemises” (P. Valéry, “Le Sylphe”). Rente ao sal da pele, a palavra é corpo e deflagração erótica. O sujeito poético dedilha o corpo da mulher (“Passei a mão / pelo teu corpo dos pés aos cabelos”), abrindo veredas com o saber da língua (“A minha língua envolveu-te os seios / que sabiam a sal e a morangos”). As lexias apuram-se como deusas do corpo, sugerindo, sugerindo sempre: “lábios / suaves como veludo”, “pupilas dilatadas”, “clarão da explosão”, “ondas concêntricas no branco” e a primeira parte do poema “O sexo” são claro exemplo de uma profunda pregnância erótica tonalizada disforicamente por um certo desalentamento (v. g., “Manual do sentimento” ou “Último tango em Paris”) que promove uma dor claramente lírica.
Outro lugar fica “No Palácio de Estói”. E o poético que fica é a areia da memória e a “épica” da corrosão. Abrindo-se a parte pela morte do dia (“Morre o dia”), é de morte que a aproximação do olhar poético ao lugar eleito fala: a inquirição sobre o que se passará no palácio naquele instante logo responde com “os capitéis das colunas gastas pelo tempo” e com o “cenário da sombra ausente / dos habitantes mortos.” Já no portão, torna-se iniludível o lugar de devastação: o segundo poema fala de “lugares desabitados” de que a cidade se quer infensa, como se a ocultação não fosse a mais clara afirmação da peste. O lugar habita o pântano, parado sítio em que um “vetusto torreão / é o senhor da paisagem”. Em volta, tudo jaz abandonado, vazio e o tempo tornou as coisas inúteis. Atento, mágico, o mármore fixa a queda.
Luminoso, um jardim vem ao macrotexto venturiano, para encerrar a viagem poética. E da luz ao embaciamento vai um nada, nesse centro edénico se lavrando um “espaço de imobilidade” denegador, onde “Não existem caminhos / não há de onde nem para”. A primeira composição, “O jardim poema”, é abundante de ‘nãos’ e de ‘talvez’, afirmando assim um trabalho de crença recolhido na palma da mão, aí onde o labor poético pode recriar o mundo.
Neste jardim dessorado existe uma história esquecida, um “outrora” e um “agora apenas” que entrechocam, com espectadores privilegiados que a tudo assistem, como acontece com aquele banco imóvel do penúltimo poema, assim sublimemente parado como estática e poética é a última e devastadora ambiência.
É um arguto João de Araújo Correia quem,
Viseu, 25 de Junho de 2008
Martim de Gouveia e Sousa
[http://www.gentesingular.pt/]
2009-04-14
2009-04-12
2009-04-09
matza
é o tempo do fel e do pão ázimo
do amargor as ervas são palavras
ferventes dentro das nozes do mel
que te percorrem e te fermentam.
2009-04-07
frase da noite
Depois de eliminarmos o impossível, aquilo que sobra, por mais improvável que seja, deve ser verdade.
Sir Arthur Conan Doyle
[enviada por Pedro Aguiar Pinto]
2009-04-06
2009-04-05
2009-04-04
ofício da pele
e da rua noite dentro um soco
abala-te os tímpanos a sórdida
candeia cai e derrama-se em ti
como se os dedos combustíveis
fossem de madrepérola frios…
tenso um músculo entesa-se
contra o lábio eréctil e da noite
vem um grito marejado de frio
derradeira lâmina no estupor
do sórdido verniz que se derrete…
idiota um coração rebenta no chão
abrindo-se maduro à aspereza do pó
como devorador canibal cansado
roto e vestido nas lajes negras…
uma dança então nasce do azebre
dos corpos flutuantes no cheiro
na navegação húmida das ilhas…
o vento amacia o cacto o hálito
amargo da boca anavalha-te…
em pano um secreto dente rói…