A poesia de António Manuel Ferreira cada vez se mostra menos, como se o contimento fosse o melhor caminho para uma presença poética. Publicando de forma esparsa desde o início da década de 80, são só ocasionais as lacerações e as aparições criativas. Ensaísta e académico, é na poesia, no entanto, que o homem cultural se completa. Este "Regresso à cidade" é um poema fulgurante:
a noite confunde-me
as imagens
as linhas do rosto
tão perto ainda
mesmo a língua
à solta no canto das vogais
e no recanto dos músculos
mesmo as mãos
vorazes e céleres
destemidos animais
mesmo os olhos
tão feitos de luz vespertina
persistem os gestos
nítidos sulcos no júbilo
da pele
4 comentários:
Belíssimo regresso, este!
toda a intuição das vogais e da intenção sensorial...um caminho feito de "músculos" secretos mas que ficam dentro da nossa pele...!
boa tarde Martim.
beijo.
bonito texto...
beijos
...ora depois de atordoado lá em baixo com wilde, deparo-me agora com este poema que é uma rampa para o subterrâneo da pele...
inté kamarada
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