Perde-se o investigador em buscas contínuas, sem que muitas vezes veja premiado o seu esforço de omnívoro leitor apaixonado pelo objecto escrito. E quem nada escreveu ou perseguiu que o pense: nem sempre os dias são de fartas descobertas neste mundo maior de livros e publicações periódicas e caminhos de escritas, que, de tanto mostrarem, muito mais escondem pelo tempo dentro.
As muitas tapeçarias de paixão são livros e revistas e jornais e papéis e vozes, steinerianas “presenças reais”, sombras iluminantes dentro do olhar também preso aos objectos principais.
Não dependem muito das nossas volições certo esquecimento, certas omissões, abundantes alterações ou arreliadoras gralhas de novos sentidos, outras leituras se proporcionando, diferentes aproximações ao dito que sempre escapa. Possa cada um acrescentar um tijolo ao árduo ofício das opera omnia, exercício de conjunção e trabalho de escavação.
A revista Mais Além, no seu nº 7 da 2ª série, de 1970, então propriedade do Centro das Actividades Circunscolares da Escola do Magistério Primário de Portalegre, coordenada e orientada pelo Professor Manuel Inácio Pestana, promove uma importante homenagem a José Régio, que falecera há pouco. Joaquim Pathé, director da mencionada instituição, bem adverte no prefácio para a importância de um inédito capaz de conglomerar em hino a emoção portalegrense.
Contendo a publicação, para além das palavras proemiais de Pathé e de abundante iconografia, um “Testemunho” de J. Grave Caldeira, um fac-símile de uma carta regiana dirigida à revista, um ensaio de Carlos Garcia de Castro intitulado “Critério para a visão de um mestre”, um excerto de Moreira das Neves de nome “José Régio e a Graça de Deus”, um texto de Manuel Inácio Pestana sobre Régio coleccionador, uma entrevista com Manuel Bilé, uma “Paráfrase a um poema de José Régio” por Fernando J. B. Martinho, um testemunho do Cónego J. Assunção Jorge sobre o conteúdo religioso do Poeta, uma evocação do deputado e edil portalegrense Manuel de Jesus Silva Mendes, um memorial pelo Cónego Anacleto Pires Martins, uma reflexão de Ernesto de Oliveira sobre cinema e Régio, poemas laureados com o “Prémio Literário José Régio” de Fernando Mendes e Maria de Fátima Vicente Ferreira, destacarei do conjunto a transcrição da conferência proferida, em Portalegre, por Firmino Crespo, na noite de 25 de Fevereiro, e que aparece na revista subordinada ao título “Firmino Crespo fala de José Régio”, para de imediato segmentar apenas o que ao tal inédito diz respeito.
O conferencista, a dado passo, refere um poema regiano, de nome “Canção de Portalegre”, logo acrescentando: “Ignoro se está publicada algures, mas como possuo uma cópia manuscrita, eis parte do que foi escrito por José Régio.” Sem acto interpretativo sobre a frase de Crespo, eis a composição em causa:
Canção de Portalegre
De Portalegre cantando,
Meu canto é doce e é amargo:
Já sinto os olhos turvando,
Já sinto o peito mais largo…
Ai! torres da velha Sé
Ai! muros do burgo estreito!
Sempre vos rezo com fé
Se me levanto ou me deito.
O céu das tardes compridas
Parece que vem baixando;
E as torres são mãos erguidas
Que quase lhe estão chegando!
Ao longe se perde o olhar
Nas névoas dos horizontes…
E a terra parece o mar,
Parecem as ondas os montes.
Tem cada ruela estreita
Casas pobres e opulentas
Meu gosto nenhum enjeita:
Todas são minhas parentas…
Olhei da Serra a cidade,
Tão branca, estreita e comprida
Fez-me alegria e saudade,
Assim de noiva vestida…
Concluo agora, dizendo que não encontro este poema, completo ou incompleto, incluído nos dois volumes de poesia da “Obra Completa” de José Régio, que a Imprensa Nacional-Casa da Moeda publicou, em 2001, com introdução de José Augusto Seabra. Com Gadamer, digo dever ser revelado “o que sempre tem lugar”, preenchendo-se assim, com esta inclusão, uma falha que é nova luz.
As muitas tapeçarias de paixão são livros e revistas e jornais e papéis e vozes, steinerianas “presenças reais”, sombras iluminantes dentro do olhar também preso aos objectos principais.
Não dependem muito das nossas volições certo esquecimento, certas omissões, abundantes alterações ou arreliadoras gralhas de novos sentidos, outras leituras se proporcionando, diferentes aproximações ao dito que sempre escapa. Possa cada um acrescentar um tijolo ao árduo ofício das opera omnia, exercício de conjunção e trabalho de escavação.
A revista Mais Além, no seu nº 7 da 2ª série, de 1970, então propriedade do Centro das Actividades Circunscolares da Escola do Magistério Primário de Portalegre, coordenada e orientada pelo Professor Manuel Inácio Pestana, promove uma importante homenagem a José Régio, que falecera há pouco. Joaquim Pathé, director da mencionada instituição, bem adverte no prefácio para a importância de um inédito capaz de conglomerar em hino a emoção portalegrense.
Contendo a publicação, para além das palavras proemiais de Pathé e de abundante iconografia, um “Testemunho” de J. Grave Caldeira, um fac-símile de uma carta regiana dirigida à revista, um ensaio de Carlos Garcia de Castro intitulado “Critério para a visão de um mestre”, um excerto de Moreira das Neves de nome “José Régio e a Graça de Deus”, um texto de Manuel Inácio Pestana sobre Régio coleccionador, uma entrevista com Manuel Bilé, uma “Paráfrase a um poema de José Régio” por Fernando J. B. Martinho, um testemunho do Cónego J. Assunção Jorge sobre o conteúdo religioso do Poeta, uma evocação do deputado e edil portalegrense Manuel de Jesus Silva Mendes, um memorial pelo Cónego Anacleto Pires Martins, uma reflexão de Ernesto de Oliveira sobre cinema e Régio, poemas laureados com o “Prémio Literário José Régio” de Fernando Mendes e Maria de Fátima Vicente Ferreira, destacarei do conjunto a transcrição da conferência proferida, em Portalegre, por Firmino Crespo, na noite de 25 de Fevereiro, e que aparece na revista subordinada ao título “Firmino Crespo fala de José Régio”, para de imediato segmentar apenas o que ao tal inédito diz respeito.
O conferencista, a dado passo, refere um poema regiano, de nome “Canção de Portalegre”, logo acrescentando: “Ignoro se está publicada algures, mas como possuo uma cópia manuscrita, eis parte do que foi escrito por José Régio.” Sem acto interpretativo sobre a frase de Crespo, eis a composição em causa:
Canção de Portalegre
De Portalegre cantando,
Meu canto é doce e é amargo:
Já sinto os olhos turvando,
Já sinto o peito mais largo…
Ai! torres da velha Sé
Ai! muros do burgo estreito!
Sempre vos rezo com fé
Se me levanto ou me deito.
O céu das tardes compridas
Parece que vem baixando;
E as torres são mãos erguidas
Que quase lhe estão chegando!
Ao longe se perde o olhar
Nas névoas dos horizontes…
E a terra parece o mar,
Parecem as ondas os montes.
Tem cada ruela estreita
Casas pobres e opulentas
Meu gosto nenhum enjeita:
Todas são minhas parentas…
Olhei da Serra a cidade,
Tão branca, estreita e comprida
Fez-me alegria e saudade,
Assim de noiva vestida…
Concluo agora, dizendo que não encontro este poema, completo ou incompleto, incluído nos dois volumes de poesia da “Obra Completa” de José Régio, que a Imprensa Nacional-Casa da Moeda publicou, em 2001, com introdução de José Augusto Seabra. Com Gadamer, digo dever ser revelado “o que sempre tem lugar”, preenchendo-se assim, com esta inclusão, uma falha que é nova luz.
4 comentários:
Um Texto bastante elogiado em Portalegre,quando da saída do Jornal.
... que a encontremos sempre
a nova luz...
abraço
Muito interessante! Abraços!
Publiquei o poema completo no meu blog (espero que gostem):
http://celaviewithme.blogspot.pt/2012/07/poema-inedito-de-jose-regio-cancao-de.html
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