Guardo uma alarmada memória do encontro nodal com um poema de Luiz Guedes, ínsito na presença nº 38 (1933), de título "Pariz de França". Da fulgurância desse encontro, permanecem ainda perfeitamente vivos os incipit e explicit estranhizantes, poéticos e pós-cinéreos, embalando o espanto: "Sim: eu, Luiz / também já fui a Pariz / também vi terras de França." e "- só não tive recepção / no Quai d´Orsay."
Na presença é Luiz Guedes poeta de um poema só. E, no entanto, a sua poética ressuma de presencismo, que é, sem dúvida, sinónimo de qualidade e de amor literário. Fiquem-se com o arrebatador poema 11. de sub solo (1932):
Hão-de se erguer as pedras das calçadas!
A velha mole de pedra, a Catedral,
há-de tombar por fim! E às gargalhadas,
sobre as ruínas rirá o vendaval!
Um ruído de unhas a riscar na cal
das paredes brutais desmoronadas,
soará como um cântico fatal
ao alvorecer de novas madrugadas!
Um sol a arder em sangue às labaredas
calcinará as trágicas veredas
de novos passos, novos horizontes...
Mas quando?"... Quando é que virá
esse momento ideal que tocará
num baptismo de fogo as nossas frontes?
É destas ruínas o chão da literatura...
7 comentários:
Não conheço este Luiz Guedes, mas gostei. Um abraço.
e das ruínas o que resta????
a memória????
ou nem?
isabel, memória alguma resta. eu, serei parte dela, porque possuo alguma bibliografia e mania investigativa e, penso, amor à coisa literária. é, sem dúvida, um bom poeta soterrado. bjos certos, isabel.
Regresso pujante.
Mas das ruinas...de D'Orsay, resta um museu imperdivel.
Abraço
hurra martim
:
e de tempos antigos aqui saem novidades.
abraço
obrigado, duke, e haveremos de burras comer na nossa tão amada estremoz...
obrigado, porfírio, e penso que o luiz guedes a ambos agrade...
Bonito poema que hoje li pela primeira vez! Viva a poesia!
Enviar um comentário