"O tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo, vibrando. Como imaginar o futuro? Sou eu agora irremediável como a absurdez de uma pedra, como a sua obstinação. O que sonho mal é um sonho; porque o espero e o desejo na experiência do meu corpo, das minhas vísceras - como é realizável o pão à fome de quem nunca o teve. Mas dos desvarios que o meu aviso suscita como um erro de cálculo ou de manobra, da secura mecânica das horas que o esqueceram na execução dos gestos, do terror dos longos dias até ao repouso final, da própria angústia que me torce à evidência da minha condição -, neste instante apaziguado eu me esqueço à quie-
tude desta lua irreal sobre a terra realizada em dádiva e fertilidade, à memória de uma inocência de outrora e para sempre reinventada em música a uma hora gravada de cansaço entre uns dedos indefesos e uns cabelos louros e a luz derradeira de um dia de inverno, eu me esqueço ainda, ao anúncio de alguém numa porta que se abre e me procura e me toma as mãos e as molda, à luz da lua, na flor breve e miraculosa de uma profunda comunhão..." (Vergílio Ferreira, explicit de Aparição )
depois da fulgurância vergiliana, mais nada se diga. só este breve silêncio...
5 comentários:
......em silêncio.....bebo e re.bebo em bebedeiras de azul todo o inigualável fulgor de V.F....
acorrento-me à corrente de outras contas. sempre. as dele. eternas.
bjo Martim
Grande livro, interessante final...
spartakus, ideias. lê, v.g., "alegria breve". abraço.
Vergílio Ferreira, o grande escritor!
(rápida.........a ...........sombra)
beijo.
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