2006-08-26

A Poesia de António Pedro

retrato por Pribyl


Pertencendo a uma linhagem de poetas por assim dizer ultra-poéticos, para utilizar o apodo de Manuel Anselmo, António Pedro (1909-1966) é um nome forte e estranhamente deslembrado. Inserível em caminho trilhado por Almada Negreiros, Raul Leal, Mário Saa, António de Navarro e Grabato Dias, é António Pedro um dos mais interessantes e polifacetados vultos culturais do século XX, como acontece, aliás, com alguns dos escritores afins atrás mencionados.
António Pedro nasceu em 1909, em Cabo Verde, na cidade da Praia, vindo a cumprir estudos liceais no galego colégio jesuíta de La Guardia. Cedo se iniciando na exposição de trabalhos plásticos (1925) e no mundo literário (1926), o estro invulgar faz dele conferencista, desenhador, caricaturista, director de jornal, redactor, poeta, estudante de Direito, organizador de exposições, estudante de Ciências Histórico-Filosóficas, contista, galerista, militante no Movimento Nacional-Sindicalista de Rolão Preto, pintor, estudante no Institut d’ Arte et d’ Archéologie da Sorbonne, crítico de arte, redactor e subscritor de manifestos de arte, prefaciador de catálogos, novelista ou romancista, director de revista, jornalista, ensaísta, argumentista, tradutor, activista da candidatura à presidência da República do General Norton de Matos, cronista, ceramista, escultor, director artístico, encenador, dramaturgo e possuidor de outras capacidades que a memória esquece. Quem assim?
António Pedro morreu em Moledo do Minho, a 16 de Agosto de 1966, passaram há dias exactos 40 anos. A poesia de António Pedro, édita (“Os meus 7 pecados mortais”, 1926; “Ledo encanto”, 1927; “Distância”, 1928; “Devagar”, 1929; “Diário”, 1929; “Máquina de Vidro”, 1931; “A Cidade”, 1931; “Quási Canções”, 1932; “15 poèmes au hasard”, 1935; “Solilóquio mostrado”, 1935; “Canções e outros poemas”, 1936; “11 poemas de exaltação e o folhetim”, 1938; “Protopoema da Serra de Arga”, 1949) e inédita (por exemplo, o anunciado livro de 1962, “Quando já nem o coração se engana com música”, que era projecto de 1949 com o título “O Tédio Estéril”), é um fabuloso espaço de sedução quase intocado. Registo o oportuno resgate que Fernando Matos Oliveira cumpriu, em 1999, para a Angelus Novus, ao facultar ao público interessado uma modelar antologia poética.
Do livro dos vinte anos, “Diário”, escrito na cidade da Praia, retiro o “explicit” que é também a minha perplexidade: “…Apenas me sobressalta / não ver os mortos da sombra / que me fazem tanta falta!...”
Como faz falta António Pedro, que pela nossa cidade passou em exposição colectiva de cerâmica no ano de 1954…
[publicado no Jornal do Centro de 26 de Agosto de 2006]

5 comentários:

Anónimo disse...

António Pedro e a sua "Antígona", também. Boa-tarde!...

Anónimo disse...

Gosto de António Pedro, nomeadamente do da "Ode ao Sr. António de Navarro". Abraço!

Mário Casa Nova Martins disse...

Estimulante diálogo!
Abraço

porfirio disse...

:
e suspenso no tempo ainda mareja
este grande António Pedro

abraços

Anónimo disse...

....que é tb. a minha perplexidade... encantada.



e no lado do mar no penúltimo post da samartaime....há cabo verde....vale a pena ir daqui para lá....

beijo. Martim.


isa.